01.NOVEMBRO.2021 | RETORNO AO ESCRITÓRIO
Abraço, soquinho ou cotovelo? O que fazer no trabalho?
Entre amigos, sim, já tem muita gente se abraçando e se cumprimentando com beijos saudosos. São dois para quem é do Rio, um para São Paulo e três para Belo Horizonte, ou alguma variação sobre esses números. O fato é que nós brasileiros gostamos desse ritual. Com a pandemia, nos vimos privados desse contato mais próximo, o que foi particularmente doloroso para um país tão relacional como o nosso. E no trabalho, não éramos tão diferentes. Podíamos cumprimentar todo mundo com beijo e abraço sem cerimônia, o que para alguns estrangeiros soava um pouco esquisito, mas esse era o nosso “jeitinho” e pronto.
Depois da pandemia, tivemos que nos conformar com o distanciamento, abandonar os apertos de mão e no máximo passamos a dar aquela cotovelada ou aquele soquinho com a mão. O que era um cumprimento para nossos brothers entrou para o nosso gestual do trabalho e aprendemos a usá-lo sem nos sentirmos deslocados, já que as turmas do soquinho se fundiram.
Agora, com a vacinação caminhando e boa parte de nós imunizados, estamos meio perdidos sem saber até que ponto devemos nos aproximar nesse reencontro físico no trabalho. Em matéria do Valor na semana passada, um diretor de RH disse que sua companhia, com mil funcionários, está adotando pulseiras, com cores diferentes, indicando a predisposição da pessoa para interagir fisicamente ou até abraçar na empresa. Departamentos de RH, em todo o mundo, estudam possíveis regras para esse nosso novo convívio presencial pós-pandemia.
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Será que quem escolher a cor “afaste-se de mim” vai sofrer bullying? Afinal, quem não gosta desse toque brasileiro, segundo a sabedoria popular, bom sujeito não deve ser. Mas o que muitos esquecem é que no mundo pré-pandemia existiam aqueles que já não gostavam desse toque no trabalho. Tenho um colega que sempre odiou isso, mas sentia-se inibido de recusar essa pegação porque poderia soar antipático ou pouco social.
Ao que tudo indica, agora cada um de nós vai ter que descobrir seu nível de tolerância a apertos de mão, esbarrões e abraços e estabelecer o próprio limite. Você pode acabar com os braços abertos ao vento e nem por isso deve se sentir ridículo. Todo mundo está um pouco desconfortável e sem saber exatamente o que fazer.
A boa notícia é que, de alguma forma, fomos forçados a aprender que não existe certo ou errado nesse novo protocolo e, se um não quer, agora a maioria respeita. A questão, afinal, ainda envolve a proteção à saúde. Infectologistas dizem que o abraço com máscara, em lugar aberto, pode não ser tão arriscado, se todo mundo estiver vacinado. O aperto de mão é bem mais complicado porque levamos a mão à boca inúmeras vezes no dia. Mas para evitar o contágio, a regra é simples. Apertou a mão? Álcool em gel ou sabonete.
Um executivo que mora nos EUA me disse que os apertos de mão começam a voltar timidamente aos eventos de negócios. A tradição não será facilmente esquecida, pois esse tipo de cumprimento é associado à confiança. A força com que ele vai voltar à nossa sociedade, no entanto, é uma incógnita. Uma pesquisa da WHResearch, publicada pela “The Economist”, mostrou que as mulheres são as mais ressabiadas, com 62% dizendo que ao serem apresentadas a alguém no escritório hoje vão preferir o cumprimento verbal, enquanto 39% dos homens vão usar o soquinho.
Como tudo ainda é um experimento nessa nossa volta ao mundo do trabalho presencial, o toque vai ser algo que vamos ter que reincluir no nosso dia a dia. Em que medida? Observe os outros no escritório, a cultura da sua empresa vai lhe dizer o quanto você pode avançar nessa reaproximação. Segundo especialistas em etiqueta pode se tentar tudo. O importante é seguir as normas sanitárias porque a pandemia ainda nos espreita e todo cuidado é necessário. A sede de nos reunirmos é grande e os eventos presenciais estão voltando com tudo. As cadeiras estão mais distantes, mas a vontade de se abraçar é forte e há quem não veja nisso um problema.
A nova regra é perceber que se alguém não está confortável em te abraçar, passinho para trás, se outro insiste no cotovelo, não deixe a pessoa se sentir ridícula por isso, o mesmo se aplica ao soquinho. Aceite que o mundo está diferente e que cada um tem seu ritmo, sua vontade e seus medos. O melhor é ter empatia em qualquer situação. Toca aqui!
Fonte: Stela Campos para Valor Econômico