PANDEMIA | 05.AGOSTO.2020

Como o coronavírus pode mudar os escritórios

Grande parte da arquitetura modernista, reconhecida por suas longas fachadas de janelas amplas, salas de cores claras e terraços largos com grandes grades a sua volta, pode ser entendida como uma consequência do medo da tuberculose. A doença foi uma das preocupações mais urgentes de saúde no início do século 20. As escolhas de material e design não eram apenas esteticamente elegantes, funcionavam como instrumento médico, erradicando salas escuras e cantos empoeirados.

Os escritórios talvez não sejam os mesmos após a pandemia

Conforme as empresas preparam o retorno dos funcionários, muitas consideram adotar grandes e pequenas mudanças na cultura e no local de trabalho. O escritório corporativo moderno, conhecido por espaços abertos e colaborativos, com cafés internos e mesas lado a lado, pode contar com um novo item obrigatório: as barreiras de acrílico.

A divisória, que pode ser embutida na mesa, é uma das muitas alternativas sendo consideradas nos escritórios. As reformas também podem incluir: postos para higienização das mãos, filtros de ar que empurram o ar para baixo e não para cima, espaços de encontro ao ar livre para permitir a colaboração com menos riscos de transmissão viral e janelas que realmente se abrem, para um fluxo de ar mais livre.

A conversa sobre como reconfigurar o local de trabalho está acontecendo em todos os negócios, desde pequenas empresas até grandes corporações, pendendo para a volta de um conceito que estava afastado do design de interiores desde os anos 60: privacidade.

Segundo Jeroen Lokerse, diretor administrativo do conglomerado imobiliário internacional Cushman & Wakefield na Holanda, a visualização é essencial para garantir que as pessoas se sintam seguras. “Se você quiser mudar os hábitos das pessoas de estar próximo, precisa ter diretrizes muito claras”, disse em entrevista ao New York Times.

Lokerse liderou uma rápida reformulação do escritório da empresa para incentivar uma melhor higiene e distanciamento social. O objetivo é garantir que 1 metro e oitenta, medida recomendada para um distanciamento seguro, permaneça entre as pessoas o tempo todo. Esse comportamento é incentivado por meio de móveis espaçados, mas também por sinais visuais, como círculos ao redor de cada mesa para delimitar a distância ideal.

Foto: Cushman & Wakefield

 

Usando setas no chão, os funcionários são incentivados a andar nas ruas do escritório apenas no sentido horário. Esse tráfego de mão única é utilizado pelos profissionais da saúde para ajudar a evitar a propagação de doenças infecciosas. Tudo isso equivale a um infográfico em tamanho real: você deve permanecer distante.

Mas é suficiente para impedir a propagação da covid-19?

Embora as ideias sejam promissoras, ainda é cedo para dizer se um escritório como o projetado pela Cushman & Wakefield será suficiente para conter um vírus tão contagioso quanto o coronavírus. Quem tem esperança que o risco de contágio diminua para zero, pode deixar de sonhar.

As mudanças, entretanto, podem realmente gerar espaços mais seguros. Muito do que sabemos sobre a transmissão de doenças no local de trabalho vem de estudos sobre a gripe, que compartilha semelhanças com a covid-19. Uma análise de 2016 descobriu que cerca de 16% da transmissão da gripe acontece nos escritórios.

Nesse sentido, outra pesquisa mostrou que uma das melhores maneiras de reduzir o risco de transmissão no trabalho é oferecer licença médica remunerada e incentivar os funcionários doentes a ficarem em casa. Outro passo básico é diminuir o número de pessoas.

Além disso, a filtragem de ar foi uma importante lição aprendida com a China. Os edifícios chineses estão há vários anos sendo construídos com sistemas de ventilação de alta qualidade, o que permitiu uma volta rápida dos trabalhadores para os escritórios durante a pandemia.

Em que tipo de espaço estamos dispostos a trabalhar agora?

Por enquanto, proteger os escritórios pode significar não ter mesas compartilhadas, assentos muito próximos ou cafés onde as pessoas se reúnem. E reconfigurar a ventilação do prédio para um ar mais limpo e saudável.

Para empresas menores, as mudanças podem ser mais modestas, como criar espaço físico ou barreiras entre funcionários que se sentam juntos. Mas a segurança exigirá mais do que escudos de plástico; as pessoas querem ter uma colaboração segura. Uma comunicação clara e consistente a respeito dos protocolos adotados é fundamental para que as pessoas possam mudar hábitos antigos.

No final, a solução ainda pode ser incentivar que muitos funcionários continuem trabalhando em casa. A alternativa tem dois propósitos: manter as pessoas seguras e economizar dinheiro. À medida que as pessoas provam que são produtivas remotamente, elas se tornam menos tolerantes com locais de trabalho que não promovem saúde e bem-estar.

 

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Fontes /

The New YorkerThe New York TimesFast Company