CUIDADOS COM EXCESSOS | 07.JULHO.2017
Médicos brasileiros pedem exames demais
Certamente você ou alguém que conhece já se consultou com vários especialistas e repetiu diversos exames, mas não encontrou uma solução para aquela dor persistente. Essa situação infelizmente é comum. Mas não deveria ser considerada normal.
Segundo dados do Mapeamento Assistencial divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 2014 a 2016 foram realizados 12% mais exames no país. Os médicos dos planos de saúde brasileiros, por exemplo, pedem mais tomografias e ressonâncias magnéticas do que profissionais de outros países. O aumento no período foi de 21% e 25,2% respectivamente.
Nos países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como Alemanha, França e Estados Unidos, a média anual de ressonâncias é de 52 por mil habitantes, no Brasil esse número é de 132. O número de tomografias realizadas também é superior no Brasil. Foram 135 exames por mil habitantes, enquanto nesses países foram 120.
Esse aumento indica que muitas dessas solicitações podem ter sido feitas sem o devido critério de avaliação. Entre algumas razões estão a falha formação médica, interesses financeiros de hospitais, clínicas e laboratórios. Por trás de tudo isto, o que acontece é uma não valorização da anamnese médica, ou seja, a entrevista realizada pelo profissional de saúde ao seu paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença e que é muitas vezes capaz de gerar um diagnóstico correto, sem a necessidade de exames. Mas existe a cultura de se apoiar nos exames para o diagnóstico. Inclusive, o próprio paciente costuma valorizar médicos que pedem exames.
Desperdício
A realização excessiva de exames e a inclusão de novas tecnologias, que não substituem as já existentes, resulta no desperdício alarmante que existe hoje no setor. Além de aumentar os custos de saúde, sem trazer o devido retorno na evolução de tratamentos, expõe os pacientes a riscos desnecessários, como o excesso de radiação.
Enquanto o modelo de pagamento for baseado na quantidade e não na qualidade a situação não deve melhorar. Quanto mais consultas e mais procedimentos forem feitos, mais custos são absorvidos pelo sistema.
O mapeamento de risco, a adoção de uma modelo de atenção primária e o acompanhamento contínuo do paciente podem incrementar os resultados clínicos, reduzir o desperdício com exames e aumentar a qualidade e eficiência do serviço prestado.