TRABALHO | 18.ABRIL.2022
A Grande Demissão pode durar anos, diz especialista que cunhou o termo
Já se passou quase um ano desde que o psicólogo organizacional Anthony Klotz cunhou o termo “The Great Resignation”. Em uma frase que depois se tornaria famosa, ele disse em entrevista à Bloomberg: “a grande demissão está chegando”.
Embora, naquele momento, o lançamento de vacinas da Covid-19 estivesse aumentando as esperanças de um retorno à normalidade pré-vírus, Klotz achava que a pandemia estava impulsionando várias tendências que desencadeariam uma onda incomumente grande de demissões nos EUA.
A ideia foi ousada na época, porque não foi refletida nos últimos dados oficiais da força de trabalho estadunidense, que normalmente têm um intervalo de dois meses. Mas após algumas semanas, novos números mostraram que cerca de 4 milhões de trabalhadores haviam se demitido em abril de 2021, o nível mais alto já registrado.
Em novembro, esse número havia subido para 4,5 milhões. E novos dados divulgados em 2022 mostraram que fevereiro foi o nono mês consecutivo com demissões superiores a 4 milhões.
O fenômeno chegou ao Brasil
No Brasil, a taxa de desemprego ronda os 11,5% – um cenário bastante diferente dos EUA, onde essa taxa fica abaixo de 4% hoje. E, mesmo assim, o Brasil também vive sua grande resignação.
Todos os meses, cerca de 500 mil brasileiros pedem demissão. É o dobro do registrado nos anos anteriores à pandemia, de acordo com o estudo encomendado pela Você S/A ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data, que analisou registros de movimentações trabalhistas do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), entre 2016 e 2021.
Outro levantamento mais recente, feito pela LCA Consultores, mostrou que em fevereiro de 2022, por exemplo, 560.272 pessoas pediram demissão no país. Ou seja, os números indicam uma forte tendência de aumento do número de demissões.
O que leva as pessoas a pedirem demissão?
Klotz cita quatro causas para este fenômeno, começando com um acúmulo de demissões reprimidas desde o primeiro ano incerto da pandemia, quando as pessoas permaneceram em empregos que, de outra forma, poderiam ter deixado.
Em segundo lugar, ele diz que agora os trabalhadores estão enfrentando o esgotamento após dois anos de trabalho de alto estresse e, com isso, estão reformulando seus valores.
A terceira razão estaria ligada ao que os psicólogos chamam de Teoria da Gestão do Terror, que está relacionada à ideia de que as pessoas confrontadas com a morte ou doença grave tendem a refletir sobre quanto significado e contentamento existem em suas próprias vidas.
“O que eu ouvia era: ‘Antes da pandemia, eu organizava toda a minha vida em torno do trabalho’”, conta Klotz para o Financial Post. Mas, saindo da fase aguda da crise, as pessoas diziam: “Preciso do trabalho para trabalhar minha vida”.
Por fim, à medida que mais empresas retornam ao escritório, é possível que as pessoas não queiram abrir mão da autonomia de trabalhar em casa e, como resultado, decidam sair. “A autonomia é uma necessidade humana fundamental”, diz Klotz, e quando as pessoas a experimentam por meses a fio, não cedem facilmente.
Vale dizer, aqui, que outros pesquisadores ainda estudam as causas e os impactos da Grande Demissão.
O que esperar do futuro do mercado de trabalho?
Quanto ao que Klotz acredita que acontecerá a seguir, ele começa com um grande aviso: “Sou um psicólogo organizacional, não um economista, então não tenho o direito de fazer previsões sobre o mercado de trabalho”, diz ele. “E se eu fosse economista, ficaria chateado comigo por fazer isso.”
Ainda assim, ele acha que as taxas de demissão podem ficar acima da média por dois ou três anos, em parte porque a demissão pode ser contagiosa e, também, porque há muitas mudanças no local de trabalho conforme os empregadores experimentam novas formas de trabalhar.
“Acho que isso vai manter o mercado de trabalho um tanto instável por um tempo”, diz ele. Além disso, as pessoas ainda estão “organizando suas vidas” e como elas querem que seus futuros sejam.
Fontes: Financial Post, Você S/A, InfoMoney
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